O PARQUE

A história do Parque Farroupilha se confunde com a própria história da cidade de Porto Alegre. Surgido a partir de uma área localizada nos arrabaldes da antiga cidade, ele passou, aos poucos, a ser cada vez mais envolto pelo crescimento urbano. Nessa trajetória, testemunhou as mais diversas manifestações políticas, culturais e populares. Recebeu muitos nomes, que ajudam a entender como ele se tornou um dos mais importantes parques urbanos do país.

Originalmente o local foi doado à cidade em 24 de outubro de 1807 pelo governador Paulo José da Silva Gama “para os utilíssimos e necessários fins de conservação de gados que matam nos açougues desta vila”. Uma cláusula do contrato estabelecia que a área não poderia ser alienada sem expressa autorização de Sua Alteza Real, Dom João VI. Essa cláusula foi que salvou o atual Parque Farroupilha, impedido por Dom Pedro I de ser loteado e vendido em 1826, por estar destinado a local para exercícios militares.
Em 1807, quando a área se localizava próxima ao portão de entrada da cidade, abrigava os carreteiros que comercializavam o gado da região. Era chamada de Campos da Várzea do Portão e, depois, Campo do Bom Fim face a proximidade da Igreja do Nosso Senhor do Bom Fim (1867)e das festas que ali se realizavam.

Algum tempo depois a área ficou marcada para sempre: serviu de cenário ao importante movimento pela libertação do escravos, sendo denominada de Campo da Redenção. Em 7 de setembro de 1884 a Câmara propõe a denominação de Campos da Redenção em homenagem a libertação dos escravos do terceiro distrito da Capital, registrando a significativa vitória da luta abolucionista local, que resultou na redenção de centenas de escravos um ano antes da libertação dos sexagenários e quatro antes da libertação geral do país. Esse nome permanece na memória dos Porto-alegrenses até hoje.
O primeiro ajardinamento ocorreu por ocasião da Grande Exposição de 1901, no vértice próximo a atual Praça Argentina. Nesta época ja existiam na área do Parque a Escola Militar (1872) e a Escola de Engenharia (1896). A valorização do espaço proporcionou a instalação de equipamentos, tais como corrida de cavalos em círculo, circo para touradas e o velódromo da União Velocipédica.

Em 1914, o Plano de Melhoramento e Embelezamento da Capital, elaborado pelo arquiteto João Moreira Maciel, na administração do Intendente José Montaury, propôs a divisão do parque em nove quarteirões, sendo que o quarteirão demarcado por ocasião da Exposição de 1901 já se encontrava ocupado pelo Instituto de Eletrotécnica, o Colégio Júlio de Castilhos, a Faculdade de Direito e Escola de Engenharia e o fronteiro pela Faculdade de Medicina.

O primeiro quarteirão foi ajardinado em 1927, recebendo a denominação de Parque Paulo Gama, conhecido atualmente como Roseiral. A obra foi assim justificada pelo intendente: “O bom gosto do povo despertou para estimar tão belo logradouro, no centro da figura da cidade, cousa que poucas capitais do mundo terão, e estimulei assim os vindouros para continuar o ajardinamento. Só daqui a dez ou vinte anos estará completo o Parque, mas isso pouco importa. Era necessário começar. Foi o que fiz e acabei de vez com o campo de pastagem de animais, para gáudio da população que tem bom gosto e que não tem jardins próprios.”

No início da década de 1930, na administração do Prefeito Alberto Bins, foi contratado o arquito e urbanista Alfredo Agache para elaborar o anteprojeto de ajardinamento do Campo da Redenção, o qual recuperou a unidade da área eliminando o parcelamento do projeto anterior. Esta unidade foi adquirida através do eixo central, criando um passeio, o grande lago e a integridade do parque como um todo.

Esta proposta foi adotada, em parte, quanda da instalação da Exposição Comemorativa do Centenário da Revolução Farroupilha, em 1935. Tal acontecimento foi fundamental para a implantação de Parque Farroupilha, pois através de um evento transitório efetivou-se a ocupação global deste espaço.

No dia 19 de setembro de 1935 o Campo da Redenção recebeu a denominação de Parque Farroupilha, através do Decreto Municipal 307/35.

A Exposição, que durou meses com a presença de visitantes, só teve seus prédios, construídos em estuque, desmontados a partir de 1939 quando também foi construído o Estádio Ramiro Souto. Permaneceu o pavilhão do Pará, que sediou a Divisão de Parques e Jardins, até ser destruído pelo fogo em 1970, juntamente com todo o arquivo e memória deste serviço municipal.

Os recantos Jardim Alpino, Jardim Europeu e Jardim Oriental foram implantados em 1941.
Em 1978 foi criado o Brique da Redenção e em 1997 efetuado o tombamento do Parque como Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre.

Dos 69 hectares doados pelo Governador Paulo José da Silva Gama permanecem 40,01 como área de parque. Com milhares de visitantes, principalmente aos finais de semana, esse espaço público é um dos principais pontos turísticos da Capital e cativa os seus freqüentadores pelas belezas que a natureza oferece.

O Parque Farroupilha é um patrimônio ambiental de Porto Alegre e parte indissociável das histórias de cada citadino. Quem não percorreu suas trilhas, namorou em seus recantos e passeou com os pedalinhos ou as velhas bicicletas?

Ao completar 60 anos (1935-1995) e ser eleito como o local mais querido dos cidadãos, o Parque Farroupilha, administrado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, conquistou não só o coração da cidade, mas também o coração de todos os Porto-alegrenses.