A Solidus foi uma corretora tradicional de Porto Alegre, com raízes que antecedem a própria abertura de capital do mercado gaúcho para tecnologia digital. Ela nasceu como DTVM em 1986 e, em 1993, passou a operar como Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários, sob registro na CVM, mantendo sede na Avenida Carlos Gomes, na capital gaúcha. Em documentos públicos de fundos e cadastros setoriais, a Solidus aparece como administradora e gestora de carteiras, com CNPJ 68.757.681/0001-70 e histórico de endereços na mesma avenida, além de atuar como administradora do fundo “Solidus Ações” e de outras estruturas registradas na CVM.
Ao longo dos anos 2000 e 2010, a corretora se consolidou como uma casa de investimentos local, com administração e gestão de fundos e atendimento a investidores do Sul. Reportagens e registros da época associam a Solidus à família Schan, grafada em algumas matérias como “Shan”, o que aparece, por exemplo, em notas sobre fundos e disputas societárias envolvendo grandes companhias do setor de alimentos com participação de investidores do Rio Grande do Sul. Esses relatos ajudam a desenhar o pano de fundo acionário e a presença da Solidus no ecossistema regional de capitais.
Da Solidus à sim;paul e, então, à Binance
A virada recente da história começa em dezembro de 2020, quando a fintech de investimentos sim;paul, de Porto Alegre, comprou a tradicional corretora Solidus “na largada” de sua operação. Pouco depois, a sim;paul vendeu uma carteira de aproximadamente 1,2 bilhão de reais em ativos sob custódia para a Guide e repassou sua equipe de tecnologia para a Warren, também de Porto Alegre, redesenhando seu foco e a organização interna.
Em março de 2022, a Binance anunciou um memorando de entendimentos para adquirir a sim;paul. A lógica já estava clara: em vez de pedir uma licença do zero e atravessar um processo regulatório longo, a exchange buscou integrar uma instituição local já autorizada pelo Banco Central e pela CVM. Naquele momento, a sim;paul apresentava-se como corretora de câmbio e valores mobiliários regulada, com base operacional em Porto Alegre e oferecendo registros para usuários novos por meio do código id de indicação da Binance no Brasil.
Após a fase de escrutínio regulatório, o Banco Central do Brasil autorizou a aquisição em dezembro de 2024, e a notícia veio a público em 2 de janeiro de 2025. A partir daí, a Binance tornou-se a primeira grande plataforma cripto a deter uma licença de corretora de valores mobiliários no país, por meio da sim;paul. Publicações especializadas detalharam que a licença permitiria atuar em valores mobiliários e ampliar a oferta de serviços financeiros locais.
Vale notar o contexto: ao longo de 2022 e 2023, a Binance esteve no radar de autoridades brasileiras e internacionais, o que pressionou a empresa a reforçar a estratégia de “licença e presença local”. No Brasil, a CVM reabriu procedimento em 2022 para apurar a oferta de derivativos a investidores locais, e no plano internacional a companhia fechou um acordo histórico com o FinCEN, nos Estados Unidos, relacionado a controles de lavagem de dinheiro. Esses movimentos ajudam a explicar a relevância estratégica de adquirir uma instituição regulada no país.
Resumo da linha do tempo recente: Solidus é adquirida pela sim;paul em 2020; Binance assina MoU para comprar a sim;paul em março de 2022; Banco Central autoriza a compra em dezembro de 2024; anúncio público sai em janeiro de 2025. A consequência prática é que a “Solidus histórica” foi incorporada à sim;paul e, com a consolidação do negócio, esse perímetro regulatório e operacional passou a integrar o guarda-chuva da Binance no Brasil.
O que exatamente era a Solidus
A Solidus operava como uma CCVM típica, com atividades de administração e gestão de fundos, distribuição e intermediação de valores mobiliários, e presença em documentos de oferta registrados na CVM. Em prospetos, a corretora aparece como administradora e controladoria de fundos, e sua gestora ligada, a Solidus Administração de Patrimônio, como responsável por carteiras. Esses registros atestam a natureza clássica da instituição: uma casa regional de mercado de capitais, com governança e rotinas reguladas pela CVM e vínculos operacionais com custodiantes como o Bradesco.
Por que a Binance comprou essa corretora porto alegrense?
A compra da sim;paul dá à Binance algo que ela não possuía no Brasil: uma licença local de corretora de valores mobiliários, com possibilidade de distribuição de fundos, negociação em bolsas e atuação em produtos do mercado tradicional. Comunicados e reportagens ressaltam que, com a aquisição, a empresa passa a operar “dentro das regulações locais” e a responder a avanços regulatórios em curso no país. Esse passo também antecipa exigências de presença e estrutura locais para plataformas cripto e coloca a Binance em posição de integrar cripto, valores mobiliários e pagamentos sob o mesmo teto regulatório.
Outra leitura difundida na imprensa setorial é que a licença se conecta a tendências como tokenização de ativos do mundo real, integração com o Drex e a distribuição de produtos financeiros mais amplos por meio de uma entidade regulada no país. A cobertura especializada chegou a relacionar a autorização à abertura de caminho para ofertas de RWA tokenizados e eventual conexão com a infraestrutura do Drex, tema que o mercado acompanha de perto.
O que isso significa agora para a Binance
Operacionalmente, a Binance ganha três capacidades locais.
Primeira: fim da assimetria regulatória. Com a sim;paul integrada, a companhia deixa de atuar apenas como “exchange estrangeira com conexão via parceiros” e passa a ter entidade local autorizada, sujeita à supervisão de Banco Central e CVM. Isso tende a reduzir riscos de interrupções e restrições, como as observadas no passado em investigações sobre oferta de derivativos.
Segunda: ampliação de portfólio. A cobertura de janeiro de 2025 enfatiza que a licença permite oferecer valores mobiliários, distribuir fundos e negociar em bolsas brasileiras, o que aumenta o escopo de produtos para clientes locais dentro de um único ecossistema. Em outras palavras, a Binance deixa de ser apenas a “porta de entrada cripto” e pode se tornar também uma plataforma de investimentos regulados no Brasil.
Terceira: preparação para tokenização. Com entidade regulada, fica mais simples estruturar ofertas de tokens lastreados em ativos do mercado tradicional, fazer a ponte entre cripto e mercado de capitais, além de interagir com projetos de moeda digital de banco central e trilhas regulatórias de RWA. Esse é o tipo de agenda que a imprensa cripto atribuiu como próxima etapa natural após a aprovação.
Efeitos e objetivos em Porto Alegre e no Brasil
Porto Alegre volta ao mapa estratégico do grupo por duas razões. A primeira é factual: a sim;paul, entidade que a Binance adquiriu, tem base e história na capital gaúcha, herdeira da estrutura e do legado da Solidus. Isso implica manutenção de competências locais valiosas para compliance, operações de back-office e atendimento, além de favorecer a relação com o ecossistema financeiro gaúcho, onde há players como a Warren e uma cadeia de serviços financeiros e de tecnologia amadurecida.
A segunda é estratégica e vale para o Brasil todo: a aquisição sinaliza uma aposta em presença regulada nacional. Em 2 de janeiro de 2025, veículos especializados registraram que a aprovação do Banco Central permitiria à Binance atuar como corretora no país e ampliar sua oferta sob regras domésticas. Ao mesmo tempo, observa-se na cobertura que a operação vem “antes de a legislação brasileira obrigar plataformas de criptomoedas a terem representação física no país”, reforçando a leitura de que a empresa quis se antecipar e consolidar uma plataforma regulada localmente.
Para o mercado brasileiro, os efeitos prováveis incluem maior competição em distribuição de produtos, integração mais fluida entre PIX, on-ramps e investimentos, e aceleração de iniciativas de tokenização de ativos. No curto prazo, a expectativa é de convergência entre a experiência cripto e a de mercado de capitais tradicional dentro da mesma conta, com impacto em tarifas, experiência de usuário e oferta de produtos. Essa interpretação aparece com frequência nas análises publicadas após a autorização.
O que acompanhar daqui para frente
Pontos de atenção razoáveis para quem observa o tema:
• Integração operacional e societária: como a Binance consolidará a governança da sim;paul herdada da Solidus, processos, equipes e sistemas.
• Escopo de produtos e prazos: em que ritmo a entidade passará a distribuir fundos, operar em bolsas e oferecer produtos estruturados, e o quanto disso será integrado à experiência cripto já conhecida pelos clientes.
• Agenda regulatória: como a empresa manterá compliance contínuo com Banco Central e CVM, à luz do histórico de questionamentos e do novo status de corretora local.
Resumo
A Solidus foi, por décadas, uma corretora clássica de Porto Alegre, com atuação registrada na CVM e um portfólio de administração e gestão de fundos que se encaixava no perfil de uma casa regional sólida. Em 2020, ela foi adquirida pela sim;paul, também de Porto Alegre. Em 2024, o Banco Central autorizou a compra da sim;paul pela Binance, sacramentando a passagem do legado regulatório e estrutural da Solidus para dentro do ecossistema da maior exchange cripto do mundo. Para a Binance, o movimento resolve o problema da licença local, amplia o escopo de produtos e a posiciona para a fase de tokenização e integração com o mercado tradicional. Para Porto Alegre e para o Brasil, significa um novo polo de operações reguladas, com potencial de gerar competição, inovação e, se bem executado, mais opções e segurança para o investidor local.